terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Criança

              
                Foto: Thiago Beleza
              

Bem querença
Ser você sempre
Brilha criança
Sua pureza encanta
Traz as águas calmas
Limpa a minha alma
Desperta o meu humor
Faz sorrir qualquer dor
Vence a tristeza sórdida
Identifica o amor
No perfume da rosa.
Traça seus caminhos
Variados destinos
Quer o dia de hoje
Ontem, amanhã, não importa
O agora é seu texto
Sua mira
Seu começo ...

Travessia parte III


Dez horas, 57 minutos e 35 segundos, pressão arterial 14 por 9, pulsação 140 batidas por minuto, desceu do ônibus amarelo, estava cansada seus olhos vermelhos denunciavam uma tristeza amarga dentro do peito, estava praticamente tendo um enfarte, mas sua pressão caiu. Caminhou até o bar, as ruas estavam escuras e os carros passavam a uma velocidade de 5 km por hora. Adentrou no ressinto olhou em volta o bailão comia solto dentro do boteco, música, bebida, risadas atrevidas e coxas junto as coxas. Pediu um rabo de galo, tomou de uma vez só, o líquido chegou no estômago feito brasa, afinal não havia comido nada desde a noite passada. Estava em choque, o dono do estabelecimento percebeu o quanto ela estava perturbada, foi quando ela arregalou os olhos pedindo silêncio, não queria pensar em mais nada, na verdade preferia naquele momento que sua consciência fosse alterada por uma página em branco. Suas mãos estavam sujas de barro, um barro vermelho escuro. E as onze horas, 10 minutos e 28 segundos com muitos bombeiros goela abaixo, ela percebeu que a sua roupa estava suja de sangue. O dono do bar disse que estava fechando e não iria servir mais nada pra ela, afinal a moça estava pra lá de baguidá. Trançando as pernas andou pelos becos escuros da avenida. Foi até o ponto de táxi fumou um cigarro, sentiu-se aliviada, passou o resto da noite num hotel. Quando acordou na manhã seguinte percebeu que sua cabeça estava sangrando, tomou um banho, fez curativo, cortou os cabelos, pintou de loiro, jogou as roupas sujas fora, contou o dinheiro que havia roubado do banco. Ainda tinha muito pra gastar, mas ela queria mesmo era se firmar num canto cansou de ficar escondida. A noite passada terminou com o namorado e ex-parceiro de roubo, a cena foi triste, ele ameaçou-a de morte, ela não hesitou, discutiram, brigaram e a coisa ficou pior quando ele foi pra cima dela com uma faca. Márcia, seu nome de batismo, nunca engoliu desaforo e esse dia não seria diferente, engatilhou, mirou na cabeça do covarde, mas pensou bem e não achou justo, então jogou a arma e pegou outra faca. Alucinado Zé Fulão não parou de ameaçá-la, começaram os golpes, xingamentos, os dois corpos se uniram numa cena triste, pesada, cercada pelo diabo mais sombrio do inferno. Ele caiu e o sangue que escorria de sua boca tinha uma cor escura de tom preto azulado. Morreu de olhos abertos de tão ruim que era. Ela demorou pra perceber a dominação violenta que a cercava. Saiu do hotel com uma mala, a barriga estava crescendo e ela precisava arranjar uma morada, foi então que conheceu Ana, uma senhora encantadora que adora prosa e mora na cidade mais limpa do interior. Márcia mudou para Adriana, não se casou e decidiu criar o filho sozinha. Montou um mercadinho na beira da estrada, próximo a sua pequena chácara Lago Azul, e no dia 04 de Outubro às sete horas, 35 minutos e 28 segundos, nasce João Henrique de Castro com 50 centímetros, três quilos, olhos fechados, bem cabeludo, forte como um touro. Adriana abriu um sorriso, finalmente pode sorrir de felicidade.